domingo, 15 de abril de 2007

Trabalho


Há quase um mês, em meu último post, disse que escreveria sobre o meu doutorado sanduíche, que é a razão principal de eu estar aqui. Demorei a escrever, porque acredito que esse assunto não é muito interessante do ponto de vista dos leitores, mas voilá! Espero que não fique muito massante!

Vim para a Universidade de Surrey para desenvolver parte do meu trabalho de doutorado na Unicamp, que é sobre instrumentos de avaliação de crianças com paralisia cerebral. A avaliação em fisioterapia é muito importante, pois é através de uma boa coleta da história do paciente e do problema que ele enfrenta que podemos traçar objetivos de tratamento mais precisos e individualizados. Acontece que a avaliação em fisioterapia não é muito sistemática, isto é, normalmente cada fisioterapeuta avalia seu paciente da forma que lhe convier. Parece ser bem prático, mas do ponto de vista da ciência, não é o mais apropriado, porque não permite comparações entre métodos de terapia realizados por diferentes centros de tratamento.

Especificamente para crianças com paralisia cerebral, há alguns instrumentos de avaliação desenvolvidos, que são muito utilizados no mundo, mas para que eu possa utilizar um questionário que foi desenvolvido nos EUA, preciso antes traduzir oficialmente e garantir que essa tradução seja válida, além de garantir que as questões são pertinentes para a nossa realidade (adaptação cultural). Portanto, meus objetivos de todo o doutorado são traduzir e adaptar três instrumentos de avaliação em crianças com Paralisia Cerebral. Um deles é um questionário de Qualidade de vida, outro é uma escala funcional (de atividades motoras) e o terceiro é uma escala de marcha (avaliaçãoda caminhada).

Sobre o terceiro, a Escala de Edimburgo, é que eu vim para cá. Como é uma escala visual, que avalia a marcha da criança com ajuda de um simples video, vim para comparar os resultados dessa escala com o padrão-ouro, que é a avaliação de caminhada em laboratório, com ajuda de computadores, várias câmeras sincronizadas captando a caminhada em todas as vistas possíveis, marcadores e tudo mais. A UniS tem dois laboratórios de marcha: um aqui na Universidade e outro em um hospital em Londres.

Mas por que validar uma escala visual de marcha, se há outra forma de avaliação muito melhor, que é computadorizada e tal? Porque no Brasil há pouquíssimos laboratórios de marcha, portanto, é necessário que haja uma forma menos subjetiva, porém viável de avaliar a caminhada da criança na prática clínica.

Outra coisa que estou fazendo, relacionada com a Escala deEdimburgo, é desenvolver um pacote de treinamento para os fisioterapeutas avaliarem de forma mais correta. Depois, quando eu voltar para o Brasil, entrego o CD-Rom que estou fazendo para um grupo de fisios e para outro não, com o intuito de comparar os resultados desses dois grupos e verificar a influência do treinamento na avaliação e qualgrupo de fisios foi mais fiel aos resultados obtidos no laboratório.

Está aí o motivo principal que me fez voar mais de nove mil quilômetros e ficar aqui por seis meses... Espero que tenha sido fácil de entender!

3 comentários:

Unknown disse...

Oi Ligia. Ficou massa o post. Uma discussão em alto nível (de abstração) bem interessante. Fiquei conhecendo essa tal de escala gold, por exemplo, que é uma baita aplicação da área de processamento de imagens. Quando se fala em processamento de imagens eu por exemplo sempre penso em segurança de aeroporto. Segurança de aeroporto é legal, mas é bom saber que tem outras aplicações pra cameras e computadores em conjunto.

E eu que pensava que tinhas vindo pra cá pra beber vinho e comer queijo hehehe... Abraço.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Sim, muito fácil de entender... acho que seria interessante esplicares as sutis nuances da aplicação de testes estatísticos na validação do trabalho... Fantástico, o trabalho tem um grande potencial no auxílio prático ao tratamento clínico de crianças PCs e principalmente ao trabalho dos fisioterapeutas no Brasil, e fora também, porque não? Espero que esta dedicação e amor ao teu trabalho frutifique em prol da fisioterapia e, é claro, dos pacientes!